Perdidos num mundo de espelhos

Nas diversas rodas de conversas, o exibicionismo nas redes sociais tem sido um assunto recorrente. Acusamos os exageros alheios mas também postamos muitas imagens e textos nas redes. Acusamos os exageros alheios mas passamos muito tempo com os dedos grudados nas telas.

Os murais eletrônicos são fartamente usados para a autopromoção. Há um desfile de egos aparentemente felizes. As telas exibem muitos sorrisos e festas. Nem parece que no mundo há tantas pessoas passando perrengue de ordem afetiva, financeira ou social.

A antiga mania da fofoca ganha novos formatos e se alastra pelas fibras óticas. Nas redes sociais há um excesso de narrativas pessoais e carência de valores humanos. Falta amorosidade, alteridade e tolerância. As identidades perdem força numa maré de banalidades e padronizações de comportamentos.

E quem se aventura a expor problemas pessoais nem sempre recebe boas respostas. Tem quem narra complicações emocionais, até mesmo para encontrar com quem conversar.A depressão é tida como a principal doença a reduzir a qualidade de vida, atinge uma grande parcela da população. Quem se sente solitário/a pode procurar nas redes, interação e compreensão. No entanto, é estranho e desumano, mas a dor pode ser motivo de zoeira ou de descaso. O resultado pode ser mais sofrimento. As mazelas que permeiam as relações humanas como a ignorância, o egoísmo, os preconceitos se revelam e se propagam no meio virtual.

Os ressentimentos e os desafetos são veiculados em mensagens indiretas. E como socorro, são ofertadas frases com dicas comportamentais rasas. São fórmulas simplistas para se viver num mundo bem complexo.

Enquanto isso, no plano macro, o que ocorre são negócios, muitos negócios. Além do marketing direto, em cada rede social há configurações mapeando e direcionando interesses comerciais. As corporações estimulam imagens e falas pessoais, facilitando o mapeamento de preferências de marcas e produtos, visando maiores lucros e ampliação de poder.

Será que estamos cientes do quanto estamos vivendo num emaranhado de espelhos, fibras e fios? O ilustrador francês, Jean Jullien produziu uma série de ilustrações sobre o tema. São imagens um tanto esquisitas, mas refletem as nossas atitudes diárias.

Na mitologia grega, Narciso é um jovem de extrema beleza e julga não haver ninguém que o mereça. Ao apaixonar-se pelo seu reflexo na água fica cativo da própria imagem. Narciso não consegue se relacionar, não interage e nem observa o mundo ao redor.

Em cada momento, usamos telas para nos filtrar, nos focar, nos ostentar. Há muito narcisismo e também compulsão no modo como estamos usando as redes sociais. E no vasto campo da web, há muitos portais e sites interessantes que não estão sendo acessados. São muitos cursos online e oportunidades de crescimento profissional. Há uma quantidade enorme de páginas com arte, ciência; ou sobre gastronomia, decoração, saúde, jardinagem, entre outros temas que podem ser interessantes ou úteis na vida cotidiana.

Com tanta compulsão, competição, consumismo e banalidades caminhamos para um futuro com uma multidão de eus vazios e isolados? As redes sociais são ferramentas muito interessantes e funcionais. Certamente que não vão perder força, mas a busca constante de inovações é uma forte característica deste universo.

Os excessos e desgastes pedem reorganizações e reconstruções.

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http://lounge.obviousmag.org/detalhes_dissonantes_num_mundo_de_gigantes/2015/04/perdidos-num-mundo-de-espelhos-parte-1.html

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